sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A TRISTEZA DO PALHAÇO

O Palhaço tem o nariz vermelho de tanto chorar.
Fico aqui só imaginando... Quando o picadeiro se apaga e o palhaço vai embora o que ele leva com ele??
Ele pode levar o sorriso inocente daquela criança que no inicio sentia tanto medo dele, mas que depois se rendeu aos seus encantos; também pode levar gargalhadas sinceras e gostosas, aplausos e acenos tão quentes quanto a roupa que o veste.
Mas será que na verdade ele não leva um coração cheio de aflições, dores, angústias, medos, inseguranças, frustações e indagações???
Quantos de nós não nos vestimos dia a dia de palhaços e vamos encarar a vida?
Da porta para fora somos sorrisos, gargalhadas e acenos. Mas quando voltamos, da porta para dentro somos tão humanos quanto o palhaço que acaba de tirar a fantasia e o nariz que ficou vermelho de tanto chorar!!!

Marcela Lucatto.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

(...)

Sai do ambiente de trabalho e vai almoçar. Cruza, em passos rápidos, por alguém que desconhece, tampouco faz questão de seu “olá”:
A pessoa acena com a cabeça e diz:

- Oi, tudo bem?
- Tudo bem! (tudo péssimo, tudo péssimo seu idiota!)
- Então, tá!

- ...Sorri! (Estão tá, o quê?)... - sorri novamente enquanto anda olhando pro chão pra não precisar sorrir pra mais ninguém.

Chega ao estacionamento lotado. São carros chegando, carros saindo... Lama pra todo lado.

(Minha sandália já era! Vão pensar que eu moro no mangue, no barro, no caos.)

A porta do carro não abre do lado do motorista, só do lado do passageiro. Há tempos ensaia pra deixar o carro pra arrumar, mas sempre tem uma desculpa. Dá a volta no carro, naquela lama, enquanto de equilibra num salto alto, num ombro a bolsa, no outro braço o guarda chuva e na mão direita a chave do carro.

(Quando é que vão meter cimento nesta droga de estacionamento? Pedra e terra?)

Lá embaixo vem surgindo o cara que se diz mais bem educado e feliz:

- Ô, fulana... Olá, olá... Tudo bem? E a mãe, o papai? Como foi sua manhã?”
- Er... Foi boa! (grrrrrr!). E seu filho, tá bem? Tá tudo bem? (responde rápido, por favor.)
- Olha, graças a Deus, tudo bem! Sabe que ele ta tão engraçadinho e blá, blá, blá, blá, blá e mais alguns rápidos blás......

Nessas alturas o pé já tá atolado metade na lama. (Minha sandália definitivamente foi pro saco. Meu humor também e meu horário de almoço idem.)

- Então tá bom, té mais. Vou almoçar (ao menos tentarei)! (Se sobrar tempo). (tchau e tchau, pelo amor de Deus).

Quando liga o carro, os pneus deslizam, deslizam, mas o bendito carro roxo não sai do lugar: “brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr”, “brrrrrrrrrrrrrrrrrrr”. Tenta de novo: “brrrrrrrrrrrrrrrrrrr”, “brrrrrrrrrrrrrrrrrrrr”.

(Merda, merda, merda. Com quem eu falo, quem eu vou chamar? Pra quem eu reclamo por causa desta droga de estacionamento? Peço pra São Pedro fazer parar de chover? Ou com o presidente idiota desta empresa idiota que coloca o carro dele em um lugar seco?)

Abraça com as duas mãos o volante e chora, chora e chora. (quando vai parar de chover? A chuva estraga tudo! Estraga meu humor, minha sandália e meu horário de almoço.)

Depois de um tempo, sai do carro equilibrando coisas por todos os lados e volta ao trabalho.
(...)

Ana Cláudia Faccin

Rio....

Na minha primeira visita ao Rio, confesso, tive medo. Pensava na violência e nas coisas faladas pelos paulistas sobre os cariocas. Fiquei confusa. Para não ficar presa aos meus pensamentos resolvi levar um livro para ler durante a viagem. Sempre li as críticas sobre o Saramago e me interessei por alguns temas abordados por ele. Fui direto a prateleira, li o nome do autor e sequer me atentei ao título. No ônibus, quando peguei o livro para ler... o título era de dar arrepios: “As Intermitências da Morte”. Credo! Como posso ter feito um escolha tão inadequada para aquele momento em que desejava mergulhar em uma história para afastar o medo daquela viagem. Li as primeiras páginas e procurei aderir ao pensamento central da obra... A morte é necessária, inevitável; afinal, parecia melhor do que morrer de sofrimento...
Não teve jeito, cada página do livro me fazia pensar nela, na morte, na estrada, no motorista, nos acidente. Chega! Fechei o livro, olhei para a estrada e aos poucos adormeci.
Quando acordei havia chegado ao Rio. Fiquei pasma com aquele movimento urbano e o pano de fundo da praia de Copacabana. Mar brilhante. Gente gostosa correndo pelo calçadão. Ao sair do ônibus deixei as malas no chão e fui levada pela beleza da paisagem: alegre, saudável e repleta de energia.
O vendo suave levantava as cangas das mulheres e dava graça e beleza àquelas cujos corpos queriam ficar cobertos por mera vergonha. “Segura a saia mulherada”, dizia o carregador de malas. Discretamente corri para o hotel, coloquei a roupa de banho e sai para tomar sol. Andando pelo calçadão ao som de Tom Jobim em minha mente, percebi no linguajar local uma espécie de liberdade. Lembrei dos meus colegas paulistanos dizendo “carioca é folgado, pornográfico e orgulhoso”. Decidi observar todo comportamento, fala e movimento das mulheres e dos homens cariocas. Aos poucos percebi não haver no vocabulário carioca o vício da censura. Livres e descontraídos, o grupo de cariocas sentados ao meu lado planejava ir à Lapa, dançar uma gafieira. Percebi um senhor, beirando uns setenta anos, a flertar as garotas que passavam a sua frente. Eu achava graça, tudo era maravilhoso! Por dentro apoiava a atitude daquele homem. Maravilha, pensava eu. Quero chegar nessa idade disposta apreciar com carinho a beleza das pessoas, seja ela interna ou externa. Não quero ser amarga e não pretendo me deixar levar apenas pelo belo.
Quero, como aquele carioca, não abandonar meus desejos e muito menos o meu interesse pela vida e juventude. Quero apreciar a juventude como uma obra de arte repleta cores e significados. Por fim, o Rio é a mistura do belo, nostálgico e livre carioca.


Michele Gouveia

Realidade

Há pessoas que nos dizem para viver na realidade mas, há realidade que não deve ser vista e tão pouco sentida. Realidade que na maioria das vezes machuca, corrompe, e nos corrói como um câncer... Fantasia, vivemos em um mundo de fantasias para não ter de sentir está tal dor que nos deixa aflitos e desamparados. Sim! Devemos viver na realidade mas, a fantasia nos faz sentir um pouco da maravilhosa arte de viver. Podem me tirar a realidade mas, nunca a alegria de fantasiar esta tão difícil jornada que á viver a realidade.


Manú.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Gatos, gatinhas e gatões...

Quando eu era criança, minha maior preocupação eram as lições de casa. Eram os problemas de matemática que mais me judiavam e faziam jus ao nome de “problemas”... Eu chegava da escola, abria meu livro que era em formato horizontal e começava a ler os enunciados dos exercícios. Quanto mais eu lia, mais ficava preocupada porque eles pareciam insolucionáveis. Era uma sensação terrível de incompetência e tudo o que eu mais queria era acabar logo com eles. Daí eu ia até o quintal de casa e sentava em algum lugar que o sol estivesse batendo. Ficava então eu e minha gatinha, a Naná. Com ela ao meu lado dormindo, bela e folgada, um sentimento de inveja despertava em mim. Pensava eu: “Ah, como eu queria ser como você neste momento! Não tem nada pra se preocupar, só dorme no sol, come e brinca...”.... O tempo passou e hoje não sou mais criança. Minhas preocupações vão um pouco mais além do que os problemas de matemática. Apenas um pouco mais além, mas são suficientes pra me dar, às vezes, uma sensação de incompetência quando não consigo resolvê-los. É que junto deles, vem também nossos sonhos e expectativas e quando eles não são realizados da forma que a gente imagina, a gente se sente deste jeito.Talvez isto seja uma cobrança demasiada de mim mesma, o que não resulta em muita coisa a não ser em dor de cabeça. Mas o fato é que meu sonho de ser um gatinho às vezes vem à tona. Basta eu ver minhas queridas “Lurdinha” e a “Cândida”, livres, leves e soltas, deitadas de barriga pra cima em cima da cama, com o sol batendo nelas, que aquele sentimento de inveja vem chegando de mansinho. Nessas horas me lembro dos problemas de matemática e vejo que quase nada mudou, a não ser a intensidade dos afazeres.Uma vez, quando fui fazer entrevista pra trabalhar em uma empresa farmacêutica, a selecionadora me fez a fatídica pergunta: “Se você fosse um animal, qual você seria?”. E eu, sem hesitar, respondi: “um gato, com certeza”. E ela, com toda sua técnica de interpretação que ela deve ter aprendido em algum semestre da faculdade, avaliou essa minha resposta com eficácia, na cabeça de analista que ela julgava ter. O gato tem fama de ser traiçoeiro, independente, folgado, preguiçoso. Basta conhecer o Garfield pra sacar mais ou menos como eles são. O resultado nem preciso falar. É obvio que não passei no teste. Quem é que quer alguém como um gato trabalhando por perto? Nessa posso afirmar que a selecionadora saiu perdendo. De verdade. Eu fui tão sincera com ela. Eu poderia falar que gostaria de ser um Leão, que é o rei da floresta, mas acontece que ele também é um felino. E aí? Como será que ela interpretaria?Que me desculpem minhas amigas psicólogas, mas às vezes elas têm alguns surtos de loucuras, e sendo assim, eu penso que elas são muito injustas com os ansiosos candidatos à uma vaga de emprego.Mas, mesmo assim, eu ainda digo: se eu fosse um animal, gostaria de ser um gato e pronto. Eu gosto deles e os acho um barato. Eles são asseados, fazem suas sujeiras e enterram, tomam banhos sozinhos e são cheios de carinho pra doar... E além do mais, eis aqui uma gata! Rááááááááááu! Bjos e queijo!

Ana Cláudia Faccin

A ESTRADA

A Estrada pela qual entrei era sinuosa, cheia de curvas, altos, baixos. Caminhei, caminhei, caminhei...
Avistei um posto abandonado a minha frente, e o velhinho que o guardava me explicou que o caminho que procurava estava há uns 5 kilômetros a diante. Na verdade andei um pouco mais.
Mas, logo avistei o lugar procurado. Entrei e fiquei observando aquele lugar esplêndido, cheio de flores. Eram das mais variadas espécies, cores, espessuras, tamanhos, cheiros incríveis e indescritíveis.
Sentei e comecei a deixar minhas lembranças aflorarem, lembrei daquele curso. Era Janeiro, verão, férias, São Paulo continuava nublada e chuvosa. A sala era pequena e as pessoas extraordinárias. Senti-as cada uma de uma maneira diferente em suas essências únicas. Guardei cada uma de um modo especial em meu coração...
Levantei e iniciei meu caminho de volta. A Estrada estava ótima, como foi boa a volta!!! A luz do sol batia em meus olhos, o cheiro das flores era cada vez mais doce...
E o velhinho??? Ah!!! O velhinho continuava no mesmo posto abandonado.


Marcela Lucatto.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O sol lambe preguiçosamente a manhã de domingo, gato angorá jogado sobre almofada carmim no canto da poltrona da vó. As crianças zunem pela sala, comentam os carrinhos que o encarte colorido promove e embaralham o jornal. Tomo mais uma xícara do café feito logo cedo, suspiro, um formigamento leve na ponta dos dedos, um delicado aperto no peito, flashes de nossos encontros durante a semana do curso de férias. Brincadeiras. Risos. Olhares. Botas e saltos. Textos e falas e cenas e descobertas. Acolhimento. Dá saudade. Uma dorzinha. Deixa ela pra lá. Vamos em frente. Dar ninho pro carinho. Abraçar, em pensamento e neste pequeno texto, um a um, meus maravilhosos "alunos", que durante quatro dias conduziram esse tosco sujeito para novas paragens que, com alegria, agora vou explorar. Obrigado.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

85 anos de histórias para não lembrar - Por Ana Cláudia Faccin

Lá estavam três gerações. Era o vô Jayme, meu pai e eu. O vô estava deitado numa cama hospitalar. Meu pai ao lado dele segurando sua mão e eu aos pés da cama, sentada numa poltrona. Na parede, um quadro do vô Jayme com uma risada gostosa e pernas cruzadas, como ainda posso me lembrar... do lado esquerdo do quarto aparelho de drenar secreção do pulmão e do outro aqueles negócios de pendurar soro. Não conheço os termos técnicos, mas não é nada demais.Pois estávamos nós três. Na tentativa de tirar alguma palavra do vô Jayme, apertei seu nariz e disse: "piiiiiiiiii...". Eu queria que ele respondesse "poca" como sempre fazia, aliás, como ele mesmo um dia me ensinou. Pois bem, apertei seu nariz e disse "piiiiiiiii..." e ele, nada. Mais uma vez: ele sorriu. Mais um "piiiiii" e ele soltou outro "piiiiii".- Não, vô. É pra você falar "poca". Daí fica "pipoca", entendeu? - Disse isso mas na verdade não adiantou nada, porque ele se esquece de tudo num minuto. Voltei a me sentar.Daí foi a vez do meu pai contar uma história pra ele: "Pai, tinha um vendedor de amendoim muito preguiçoso e todos os dias ele ia na porta da igreja e esperava o padre dizer AMÉM, e ele dizia....ele dizia....". Era pro meu vô falar "DOIM", mas ele não falou nada. Essa era uma história que meu avô contou pro meu pai e por consequencia eu também conheci de tanto que meu avô nos contava.Eu, sentada na poltrona pude assistir a cena de camarote. Meus pensamentos voaram pra longe e fiquei imaginando meu pai pequeno e meu avô sentado em sua cama, contando-lhe uma história. E qualquer semelhança pode até ser mera coincidência, mas meu pai estava ao lado da cama dele contando-lhe uma história. Era uma cena bonita de se observar, talvez apenas como um mero espectador. Não sei se como personagem principal o belo se transforma em tristeza. Bom, dizem por aí que não haveria a poesia se não houvesse a dor, tampouco a luz sem o escuro. No entanto, me sinto como personagem secundária e mesmo assim não sei explicar o que sentia naquele momento. Era um misto de tudo e de amor, se é que posso ser compreendida.Ao sair, beijei a testa do vô Jayme e eis que para minha surpresa ele me perguntou: "Onde você vai?", e eu respondi: "passear, quer ir?". Ele me respondeu: "Não...não"Virei as costas, apagamos e luz e saimos