quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Rio....

Na minha primeira visita ao Rio, confesso, tive medo. Pensava na violência e nas coisas faladas pelos paulistas sobre os cariocas. Fiquei confusa. Para não ficar presa aos meus pensamentos resolvi levar um livro para ler durante a viagem. Sempre li as críticas sobre o Saramago e me interessei por alguns temas abordados por ele. Fui direto a prateleira, li o nome do autor e sequer me atentei ao título. No ônibus, quando peguei o livro para ler... o título era de dar arrepios: “As Intermitências da Morte”. Credo! Como posso ter feito um escolha tão inadequada para aquele momento em que desejava mergulhar em uma história para afastar o medo daquela viagem. Li as primeiras páginas e procurei aderir ao pensamento central da obra... A morte é necessária, inevitável; afinal, parecia melhor do que morrer de sofrimento...
Não teve jeito, cada página do livro me fazia pensar nela, na morte, na estrada, no motorista, nos acidente. Chega! Fechei o livro, olhei para a estrada e aos poucos adormeci.
Quando acordei havia chegado ao Rio. Fiquei pasma com aquele movimento urbano e o pano de fundo da praia de Copacabana. Mar brilhante. Gente gostosa correndo pelo calçadão. Ao sair do ônibus deixei as malas no chão e fui levada pela beleza da paisagem: alegre, saudável e repleta de energia.
O vendo suave levantava as cangas das mulheres e dava graça e beleza àquelas cujos corpos queriam ficar cobertos por mera vergonha. “Segura a saia mulherada”, dizia o carregador de malas. Discretamente corri para o hotel, coloquei a roupa de banho e sai para tomar sol. Andando pelo calçadão ao som de Tom Jobim em minha mente, percebi no linguajar local uma espécie de liberdade. Lembrei dos meus colegas paulistanos dizendo “carioca é folgado, pornográfico e orgulhoso”. Decidi observar todo comportamento, fala e movimento das mulheres e dos homens cariocas. Aos poucos percebi não haver no vocabulário carioca o vício da censura. Livres e descontraídos, o grupo de cariocas sentados ao meu lado planejava ir à Lapa, dançar uma gafieira. Percebi um senhor, beirando uns setenta anos, a flertar as garotas que passavam a sua frente. Eu achava graça, tudo era maravilhoso! Por dentro apoiava a atitude daquele homem. Maravilha, pensava eu. Quero chegar nessa idade disposta apreciar com carinho a beleza das pessoas, seja ela interna ou externa. Não quero ser amarga e não pretendo me deixar levar apenas pelo belo.
Quero, como aquele carioca, não abandonar meus desejos e muito menos o meu interesse pela vida e juventude. Quero apreciar a juventude como uma obra de arte repleta cores e significados. Por fim, o Rio é a mistura do belo, nostálgico e livre carioca.


Michele Gouveia

Um comentário:

  1. Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caus! Você e seus pontos turísticos... Vou pra Ilheus! Trago um chaveirinho...rs!

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