quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

(...)

Sai do ambiente de trabalho e vai almoçar. Cruza, em passos rápidos, por alguém que desconhece, tampouco faz questão de seu “olá”:
A pessoa acena com a cabeça e diz:

- Oi, tudo bem?
- Tudo bem! (tudo péssimo, tudo péssimo seu idiota!)
- Então, tá!

- ...Sorri! (Estão tá, o quê?)... - sorri novamente enquanto anda olhando pro chão pra não precisar sorrir pra mais ninguém.

Chega ao estacionamento lotado. São carros chegando, carros saindo... Lama pra todo lado.

(Minha sandália já era! Vão pensar que eu moro no mangue, no barro, no caos.)

A porta do carro não abre do lado do motorista, só do lado do passageiro. Há tempos ensaia pra deixar o carro pra arrumar, mas sempre tem uma desculpa. Dá a volta no carro, naquela lama, enquanto de equilibra num salto alto, num ombro a bolsa, no outro braço o guarda chuva e na mão direita a chave do carro.

(Quando é que vão meter cimento nesta droga de estacionamento? Pedra e terra?)

Lá embaixo vem surgindo o cara que se diz mais bem educado e feliz:

- Ô, fulana... Olá, olá... Tudo bem? E a mãe, o papai? Como foi sua manhã?”
- Er... Foi boa! (grrrrrr!). E seu filho, tá bem? Tá tudo bem? (responde rápido, por favor.)
- Olha, graças a Deus, tudo bem! Sabe que ele ta tão engraçadinho e blá, blá, blá, blá, blá e mais alguns rápidos blás......

Nessas alturas o pé já tá atolado metade na lama. (Minha sandália definitivamente foi pro saco. Meu humor também e meu horário de almoço idem.)

- Então tá bom, té mais. Vou almoçar (ao menos tentarei)! (Se sobrar tempo). (tchau e tchau, pelo amor de Deus).

Quando liga o carro, os pneus deslizam, deslizam, mas o bendito carro roxo não sai do lugar: “brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr”, “brrrrrrrrrrrrrrrrrrr”. Tenta de novo: “brrrrrrrrrrrrrrrrrrr”, “brrrrrrrrrrrrrrrrrrrr”.

(Merda, merda, merda. Com quem eu falo, quem eu vou chamar? Pra quem eu reclamo por causa desta droga de estacionamento? Peço pra São Pedro fazer parar de chover? Ou com o presidente idiota desta empresa idiota que coloca o carro dele em um lugar seco?)

Abraça com as duas mãos o volante e chora, chora e chora. (quando vai parar de chover? A chuva estraga tudo! Estraga meu humor, minha sandália e meu horário de almoço.)

Depois de um tempo, sai do carro equilibrando coisas por todos os lados e volta ao trabalho.
(...)

Ana Cláudia Faccin

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